terça-feira, 22 de dezembro de 2009

19\12

Hoje já estou por Dili; houve um piknik numa praia que ficava de caminho, e eu combinei boleia com Irmão Vitor, mas á moda antiga, ou seja, como o telemóvel esta para 3ro plano, depois de umas duas horas de espera e alguma calma, lá aconteceu como planeado e fui resgatado na dita praia (muito bonita por sinal e que esteve quase sempre deserta). Mas agora que tenho mais tempo, quero contar o que ontem fez de um dia que parecia normalíssimo, mais um dia especial!









O dia tinha girado em torno do almoço de despedida por culpa do fim da temporada de trabalhos realizados por um grupo de 5 brasileiros na construção do Centro de Crise. Ao que parece, os homenzinhos chegaram e em cerca de 6 meses puseram aquilo em pé – dizem que aquilo vinha em peças do Brasil e era só montar, mas … em 6 meses… fizeram muito boa figura. Depois do almoço ainda deu tempo para juntar uns aprendizes de frades para um jogo de basquete… era cada um pior que o outro…( eu inclusive)!!!

Acontece que antes de jantar sou avisado pelo Vitor para não esperar por ele para jantar; tinha que ir levar a parteira a um parto mal parado numa aldeia (Funar). A ambulância que deveria fazer esse serviço estava avariada e estava a ser solicitado o jeep dos Irmãos para essa urgência. Claro que fiz para ir com ele, meti duas bolachas na boca e …
Dois familiares da senhora tinham feito o caminho, por atalhos mas com igual desgaste, para fazer o que noutro contexto representaria uma chamada para solicitar ajuda…!! Ao que parece o bebe tinha nascido mas a placenta continuava a fazer sangrar a mãe.

Já não bastava a aldeia ficar a uns 40’ de caminho, ainda teve que se adicionar mais uma hora para cortar o tronco que ainda estava no meio da estrada desde o dia anterior, e mais o piso piorado pelas linhas de água que se criaram com as ultimas chuvas.

Desta feita a situação do tronco foi prevista, munimo-nos de homens e utensílios (…), e com a ajuda do guincho do jeep... escrito assim ate parece que foi rápido e fácil… mas o tempo que se perdeu… depois do tronco houve mais paragens para tirar grandes pedras do caminho que, á quantidade delas, só não atingem ninguém porque é (quase) ninguém que por ali passa. Mais á frente a agua tornou o caminho numa ribeira…mais uma paragem para tentar refazer o caminho possível á passagem do veiculo…!
Ao chegar, mantinha-se a esperança em que nada de pior tivesse acontecido, mas não pensei que o desfecho das coisas ainda estivesse a depender propriamente da nossa chegada… depois de deixar o carro ainda tivemos que palmilhar caminho de lanterna por um terreno nada próprio para pessoas sedentárias quanto mais para parteiras obesas e desajeitadas… J! No caminho alguém se meteu com o Vitor: ‘Irmão! Quase parece que vamos ver o menino Jesus…!’
A casa era, como quase todas, do mais tradicional, ‘suspensa’, um só telhado, com materiais tradicionais (bambu nas paredes e colmo no telhado). Inicialmente fiquei fora da casa com vizinhos etc. a ouvir, entre outras coisas, os gemidos da senhora. Depois a parteira perguntou por mim e incentivou-me a entrar. Depois de hesitar descalcei e subi.



Escusado será dizer que aquela cena toda foi…único. Assim que entrei senti varias presenças naquele tecto encobertas pela penumbra de uma lareira meio apagada, mas Dirigi-me para onde havia luz. Num canto, a senhora estava deitada, pálida, devidamente resguardada e com as pernas a apontar para as parteiras (sim, uma parteira já lá estava, mas como a coisa não correu como o previsto…). De lanterna na mão e sem saber muito bem o que fazer nem o que dizer (…), reparei que o soro estava a correr para a esteira, tinha saído o cateter, e com a minha linguagem Pictionary (meio português, meio Tetun, meio expressão corporal) perguntei se era legitimo picar a senhora. Repuncionei a senhora e no fim disse baixinho a minha celebre frase: ‘Somos uma equipa!!!!:)!
Depois de umas massagens abdominais e mais uns quantos gemidos as coisas parece que ficaram meio resolvidas. Depois de trocarmos agradecimentos não quis sair sem saber do recém-nascido. Depois de me fazer entender, dirijo a lanterna para outro canto do espaço e ponho a descoberto umas 3 gerações de pessoas que deviam perfazer umas 10 pessoas, e no meio delas, nos braços de uma criança, estava o bebé embrulhado… foi muito forte… muito boas imagens que ficaram gravadas (em mim claro).
hoje, no dia em que estou pela terceira vez a tentar por isto do blog como deve ser, soube que o bebe nao resistiu...:(

2 comentários:

  1. Bem...um acontecimento emocionante, sem dúvida, até para quem não esteve presente mas leu a tua descrição.O nascimento de um novo ser é fascinante!
    Aproveito para te desejar muita sorte e coragem e continuação de um bom trabalho, sempre aliado de alguma diversão e novas descobertas!
    Parabéns pelo fantástico blog do qual me tornei fã!

    Mónica Teixeira

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  2. ao ler-te revejo o que se vai passando em toda a ilha... os incidentes que nos impedem de salvar mais um... até breve Clarisse

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