quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

22/02


O dia está para acabar e lá fora ainda correm restos de uma chuva que não parou toda a tarde.
Quase ao mesmo tempo que me preparava para começar a almoçar, vieram requisitar transporta para uma grávida que se preparava para dar à luz e à falta de ambulância… pego no veículo e faço-me ao caminho, junto com um dos alunos do Ir. Vítor (o Saturnino) e mais umas crianças que queriam seguir o mesmo trajecto. Este era o mesmo trajecto que tinha feito semanas antes, por ocasião do transporte que descrevi anteriormente, e nada fazia adivinhar a vala que, no cimo da montanha, cortava a estrada propositadamente, por estarem a ser construídas manilhas para o necessários escoamento das aguas.




















A vala tinha cerca de metro e meio de altura e o que tinha sido construído para contornar aquele obstáculo era uma ‘ponte’ para os pares de rodas que apoiavam a carroçaria. O passadiço para as rodas do lado esquerdo já estava construído, e se havia dúvidas sobre os materiais e a forma como aquilo tinha sido construído elas foram prontamente desfeitas enquanto presenciei a construção do passadiço para as rodas do lado direito! Enquanto homens e crianças que tinham aparecido não sei bem de onde se empenhavam em completar a construção de tal forma que eu não conseguia distinguir quais deles eram remunerados e quais não, cortando troncos e colocando-os acima da vala e cobrindo-os com plantas e terra de uma forma que não me oferecia muita confiança, eu ponderava os prós e os contras de me arriscar a atravessar com o jeep aquele obstáculo, com o peso da probabilidade de a coisa não correr pelo melhor e, de um problema surgir outro maior e que traria talvez muitos mais prejuízos e complicações. Os 32 min que demorou o completar da construção deu-me tempo para pensar em arriscar e foi isso que fiz. Com as orientações desajeitadas do meu co-piloto e uma manobra que pareceu demorar mais do dobro do que aquilo que eu desejaria… consegui!!!
Segui caminho, mas mal tive tempo para me alegrar com o que tinha acabado de ultrapassar, avisto outra vala muito semelhante, e que me faz reflorescer uma preocupação que pensei ter deixado para traz. Fico um pouco triste com a situação e volto a ponderar não prosseguir caminho. Asseguram-me que não há mais obstáculos por diante e pego nalguma confiança que tinha conquistado e tento avançar. Consegui outra vez.
Volto a seguir caminho e, logo a seguir ao meu habitual pensamento de que ‘podia ser pior’ volto a encontrar outra vala e só aí tomo consciência de que depositei confiança de mais nas crianças que me asseguraram que não haveria mais obstáculos daqueles. Nesta fase invadem-nos aqueles pensamentos: ‘ já que estou aqui…!’, etc..

Já não sei se foi na outra vala a seguir ou noutra mais adiante, ao tentar trespassá-la, não aproveito bem o lado direito (a vala estava a meio de uma ligeira curva á esquerda) e não consegui colocar o carro de forma a que as rodas de traz estivessem alinhadas com os passadiços. Foi ai que as coisas se complicaram um bocado: as pequenas manobras que fazia pareciam colocar o carro numa posição cada vez pior, a roda traseira esquerda estava a aproximar-se do precipício do caminho, os pingos de chuva que tinham começado a cair intensificaram-se, e a minha paciência e optimismo estavam a dissolver-se com a aquela chuva no meio daquelas pessoas onde faltava alguém a quem eu percebesse melhor as suas indicações.



























Depois de mais uns momentos de ponderação decidi dar uso às pernas e iniciar corrida com meta imaginária em casa, onde iria buscar ajuda (o Aurélio). Nos 20 min em que não parei de correr, deu para me aperceber que, aquelas pingas grossas, que transformaram os caminhos em afluentes e fizeram com que não houvesse parte do meu corpo que não estivesse ensopada, deveriam corresponder, segundo as minhas estimativas, à chuva que tenho a andado a evitar e a fugir nos meus últimos anos de vida! Enquanto corria com aquela roupa a moldar-me todo o corpo, perguntava-me onde estariam as crianças e as pessoas que normalmente aproveitam para brincar e/ou tomar banho?...desta vez deviam estar elas a observar-me e a pensar sobre a peculiaridade da situação;)! Depois pensei: “…a esta hora (depois de almoço), esta chuva costuma ser a minha companheira para uma boa sesta!!”
Arrancamos noutro jeep emprestado e regressamos onde tinha deixado o jeep. No local já estavam mais vestígios da decapitação de mais umas quantas árvores e os troncos para alargar os passadiços continuavam a chegar ao ombro de mais um par de Katuas (velhotes) que entretanto tinham interrompido ali a sua viagem.
Por fim, e depois de mais uns acertos na estrutura e de umas manobras acertadas, conseguimos deixar aquela vala para traz. Mais à frente ainda passamos por mais umas três, mas essa já não nos impediram de chegar ao sítio onde a grávida ainda esperava para dar á luz. Com um ar que meio assustado, lá se deixou transportar pelo mesmo caminho, mas que desta feita nos consumiu muito menos tempo a percorrer.

2 comentários:

  1. não são alunos, e não são do ir. Vítor. São aspirantes a tornarem-se religiosos/irmãos/frades, e são dos irmãos de s. joão de deus

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