quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

27/01

Hoje, enquanto vocês dormiam (ai deviam ser umas 2h da madrugada), acontecia numa destas aldeias remotas (Funar – não é a mais isolada) o primeiro rastreio de Tuberculose reforçado com acção de educação para a saúde que temos calendarizado.
Depois de uma sessão de esclarecimento á população sobre o tema, com uma boa prestação por parte de duas das educadoras com quem tenho trabalhado, houve tempo para colheitas de expectoração de casos suspeitos de Tuberculose e de testes rápidos de Malária. Nesta parte ajudei dentro do possível o técnico Izidoro com as burocracias (registos etc.).

A dada altura o Izidoro pede-me para fazer o teste da Malária a uma criança com os seus 6 anos. Quando lhe pego no polegar reparo que as mãos estão com uma camada de surro que aquela tira de álcool não ia conseguir tirar. Mesmo assim faço o possível. Depois pego na lanceta para picar o dedo do miúdo esperando a reacção tipo (um grito, choro, uma expressão de dor), mas que não aconteceu; nada acontece, nada de reacção e nada de sangue. Tudo aquilo parecia não bater certo; era uma criança que estava á minha frente, mas a única coisa que sustentava essa ideia era o seu tamanho e pouco mais. As mãos estavam gastas, sujas, com uma dureza que mais fazia pensar nas mãos de um adulto que poucas vezes pegaram numa caneta mas que, em vez disso, foram rentabilizadas assim que ganharam alguma força…
Apercebo-me de pequenas coisas, como as crianças que brincam de forma tão diferente, porque as circunstâncias assim o exigem. Nesta aldeia reparei em várias com o que parecia ser uma grande cigarra (ou então uma prima muito chegada), e deliciavam-se com o som que era produzido ali nas suas pequenas mãos, por entre a vontade do bicho em se escapulir dali e o gesto calmo e inocente da criança em prendê-lo, ora por uma pata ora por uma asa… é legitimo pensar em brinquedo ecológico!






1 comentário:

  1. Como escreves parece que me transportas para esse mundo... fico triste com as tuas palavras sobre essa gente...

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