terça-feira, 22 de dezembro de 2009
antes de voltar
eu devo voltar aqui a meados de Janeiro e conto nao dar tanta seca...:)
de volta a DILI
…deixo mais algumas fotos sem legenda; ou com muitos títulos:
19\12
O dia tinha girado em torno do almoço de despedida por culpa do fim da temporada de trabalhos realizados por um grupo de 5 brasileiros na construção do Centro de Crise. Ao que parece, os homenzinhos chegaram e em cerca de 6 meses puseram aquilo em pé – dizem que aquilo vinha em peças do Brasil e era só montar, mas … em 6 meses… fizeram muito boa figura. Depois do almoço ainda deu tempo para juntar uns aprendizes de frades para um jogo de basquete… era cada um pior que o outro…( eu inclusive)!!!
Acontece que antes de jantar sou avisado pelo Vitor para não esperar por ele para jantar; tinha que ir levar a parteira a um parto mal parado numa aldeia (Funar). A ambulância que deveria fazer esse serviço estava avariada e estava a ser solicitado o jeep dos Irmãos para essa urgência. Claro que fiz para ir com ele, meti duas bolachas na boca e …
Dois familiares da senhora tinham feito o caminho, por atalhos mas com igual desgaste, para fazer o que noutro contexto representaria uma chamada para solicitar ajuda…!! Ao que parece o bebe tinha nascido mas a placenta continuava a fazer sangrar a mãe.
Desta feita a situação do tronco foi prevista, munimo-nos de homens e utensílios (…), e com a ajuda do guincho do jeep... escrito assim ate parece que foi rápido e fácil… mas o tempo que se perdeu… depois do tronco houve mais paragens para tirar grandes pedras do caminho que, á quantidade delas, só não atingem ninguém porque é (quase) ninguém que por ali passa. Mais á frente a agua tornou o caminho numa ribeira…mais uma paragem para tentar refazer o caminho possível á passagem do veiculo…!
A casa era, como quase todas, do mais tradicional, ‘suspensa’, um só telhado, com materiais tradicionais (bambu nas paredes e colmo no telhado). Inicialmente fiquei fora da casa com vizinhos etc. a ouvir, entre outras coisas, os gemidos da senhora. Depois a parteira perguntou por mim e incentivou-me a entrar. Depois de hesitar descalcei e subi.
Escusado será dizer que aquela cena toda foi…único. Assim que entrei senti varias presenças naquele tecto encobertas pela penumbra de uma lareira meio apagada, mas Dirigi-me para onde havia luz. Num canto, a senhora estava deitada, pálida, devidamente resguardada e com as pernas a apontar para as parteiras (sim, uma parteira já lá estava, mas como a coisa não correu como o previsto…). De lanterna na mão e sem saber muito bem o que fazer nem o que dizer (…), reparei que o soro estava a correr para a esteira, tinha saído o cateter, e com a minha linguagem Pictionary (meio português, meio Tetun, meio expressão corporal) perguntei se era legitimo picar a senhora. Repuncionei a senhora e no fim disse baixinho a minha celebre frase: ‘Somos uma equipa!!!!:)!
17\12
13\12
As pessoas que falamos (religiosos na sua grande maioria) pareceram-me pessoas bastante especiais. As conversas giram quase sempre em torno de um país criança, questiona-se esta ou outra decisão do poder central, criticam-se outras tantas, mais uns quantos rumores de ‘vão construir isto’, ‘estão para avançar com aquilo’, ‘o nosso embaixador …’, ‘os australianos…’, ‘em Dili…’, etc.
Claro que uma saída destas implica varias horas de viagem com o jeep a ser rentabilizado ao máximo com boleias e afins, por caminhos que não possibilitam velocidades superiores a 21Km/h,; mas que possibilitam outras coisas: conhecer outros sítios, apanhar rede de telemóvel e, para tornar a coisa perfeita, ter acesso á net – coisa que nesta saída não foi possível. O regresso a Laclubar fez-se num final de tarde nublado, com pingos de chuva a quererem equilibrar os 38 graus que se faziam sentir (no exterior; os Malai’s têm ar condicionado); e a noite parecia estar a ser fotografada por alguém com flashes de trovões que, junto com os faróis do jeep pareciam incomodar a escuridão que cobria os animais e as pessoas que se iam avistando pelo caminho.
10\12
10/12
… No final do dia apanho boleia para a zona onde os funcionários brasileiros precisam de telefonar e aproveito para dar algum sinal para o exterior. Termino com umas batidas no teclado, que às vezes dá vontade de as transformar em pancadas mais valentes e generalizadas pelas vezes que o portátil se desliga sem explicação aparente!
09\12 contin
Já é noite, lá fora o som do gerador ainda se mistura com o dos grilos entre outros. Chego ao final da tarde cansado sem grande motivo que o justificasse. Estivemos a visitar os ‘edifícios’ (centro de saúde, centro de Tuberculose + o novo centro que esta a acabar de ser construído para dar resposta ao tratamento de doenças mentais), tantas caras novas e parecidas; para facilitar cumprimento toda a gente. De tarde choveu bastante, quase toda a tarde, já era esperada á algum tempo esta água; se viesse antes evitava as viagens que fizemos bem cedo para ir buscá-la á ribeira, com baldes e garrafões á espera que uns fios de nascente lhes tirassem o ar.
Ainda assisti a uma pequena reunião com algumas educadoras que vão às escolas fazer educação para a saúde e um dia por semana (no dia da consulta de saúde materna – quarta feira) estão no centro de saúde a fazer formações de corredor enquanto esperam pela consulta com a parteira. O centro é razoável (…), tem zonas mais degradas mas, segundo o IrmVitor, aquilo estava muito pior quando eles chegaram cá.
9\12 cont
9\12
São quase 6h, lá fora começam os primeiros ruídos e eu opto por escrever algo mais do que ontem se passou. Vou tentar ser o mais conciso, o menos descritivo, não muito pormenorizado.
Realmente o caminho é muito variado nas condições que oferece, variando entre o mau e o quase intransitável caminho; às vezes achava que estava numa prova de todo-terreno. Demoramos mesmo umas 4 horas a chegar. E pensar naqueles que fazem a viagem em ‘angunas’ atulhadas de gente, animais e tudo o mais que para lá couber. E pensar no caminho em dias de chuva intensa como se espera por estas alturas. E pensar no irmão Vítor a fazê-lo de lambreta até á bem pouco tempo atrás.
Depois de não ter conseguido fazer valer os meus gostos musicais, o rádio passou a tocar o já por aqui aclamado Tony Carreira, entre outras músicas da Romântica FM (esta parte é que me fez pensar que não ia aguentar J…!).
domingo, 20 de dezembro de 2009
antes de conseguir por as coisas como deve ser. nao apaguei esta mensagem por respeito aos comentarios...:)
aproveito esta vinda para deixar fotos...amanha ou logo vou tentar ir a outro sitio ver se arranjo melhor isto.
segunda-feira, 7 de dezembro de 2009
O dia começou muito cedo, 5:30. Aqui não há só aglomeração de pessoas em pequenos espaços, os galos e as galinhas também acompanham esta tendência e acordam muito cedo com cânticos á desgarrada. Depois de um bom banho de ‘tigela’ e de um pequeno-almoço bastante bom, toca a lavar alguma roupa e estudar uma outra palavra de Tétum. Pude aperceber-me pelo stock de roupa que o Aurélio trazia na pasta dele, que nas montanhas esta mais complicado para lavar a roupa; ou se transporta a água para casa, ou tem que se ir ao rio, e a água parece que não abunda nesta época.
Amanha esta prevista a subida á montanha, onde devo ficar mais permanentemente, por isso aproveito o dia de hoje para tentar encontra-me com algumas pessoas, alguns contactos que me forneceram, que não conheço bem, mas que importa conhecer para aumentar o círculo e não ficar tão dependente do dia-a-dia dos meus parceiros, os ISJD.
Entretanto esta noite abri a pestana – 3 e pico da manha, horas decentes em PT, e lá consegui ter as primeiras conversações.Contei algumas coisas rápidas: que tive pena não ter conseguido publicar o vídeo do protesto da Fretilin, que estava bem, etc. E lembrei-me da toma do Mephaquin. Aqui ninguém valoriza esse medicamento. Os efeitos secundários mais um ou outro mito de que não faz nada a não ser mal ao organismo, de que se tiver que apanhar apanho na mesma… que o irmão Zé Antº tratou a malária que apanhou só com plantas medicinais dá para uma pessoa se questionar… mas eu lá vou tomando. Hoje senti uma dor nas costas, nada de grave, mas uma pessoa começa logo a pensar se não será efeito secundário do raio do medicamento ou de uma ou outra picada que já fui sendo vitima apesar do repelente.
Pelas 10 e pico saio de casa depois de falar com a Clarice e de ter rejeitado a boleia dela com o pretexto de ir andando ao meu ritmo, de tentar estar mais próximo dos locais, de me misturar portanto. Bem, depois de alguns minutos a seguir a berma da estrada ao calor reparei que foi má opção; levei uns 40’ a chegar lá e deviam estar uns 42 graus. Conheci mais uns amigos portugueses que por cá decidiram ficar a trabalhar (e não eram militares); e almoçamos por lá uma salada de polvo mais um batido. Trouxeram-me a cada – consegui dar-lhes as indicações por entre as ruelas cinzentas de poeira a rodear linhas de água secas mas preenchidas com animais (porcos, cabras, etc.), crianças, homens a crivar areia, pequenas regos húmidos de esgotos, algum lixo a saltear tudo isto e muitos sorrisos gratuitos, muitos cumprimentos aos Malai’s que vão passando frequentemente.
Depois de chegar e de satisfazer a sede que tinha acumulado, chegam os meus parceiros de casa. Começa-se inconscientemente a preparar uma sesta, o corpo já vai pedindo algum desse descanso. Eu não consegui resistir a um valente sono depois de uma pequena sessão de leitura. E acordo de um sono pesado (que me faz pensar se este não foi o verdadeiro sono e se de noite é que ando a fazer as sestas) com o telemóvel a tocar. Eram os meus pais a ligarem-me, soube bem ouvi-los! Entre muitas outras coisas, foi bom sentir uma certa união na maneira como falaram comigo; e trocamos tranquilizantes (…).
De tarde o céu ameaçou e choveu mesmo, gotas grossas a martelar no telhado de zinco quase a fazer lembrar estilhaços de qualquer coisa. Um dia destes começa a ser complicado fazer o caminho Laclubar-Dili por causa das chuvas, eles têm-me assustado com as condições do caminho.
Esta acaba por ser uma época meio especial, depois do fim-de-semana, hoje e amanha é feriado, a maior parte dos Malai’s parece que estão fora da cidade (fala-se que atulhavam a ilha de Jako – paradisíaca, tenho que lá ir sem falta, e Bali – também é a zona onde penso dar uma escapadela mais longa), e começam por outro lado a preparar as viagens de Natal. Eu começo a preparar-me para entranhar-me ainda mais na ilha, na língua, na cultura, nas necessidades.
No silencio da noite, dou por mim a sentir ao longe ruídos de sirenes, buzinadelas, transito, chego até a assomar-me á janela a pensar que se possa tratar de mais um protesto desta feita mais aceso, mas não, oiço só mais um galo a cantarolar aqui, outro cão a ladrar lá longe, e reparo que a minha cabeça ainda não esta bem calibrada para estas noites.
08/12
Acordo um tempo antes de ouvir os cânticos dos Irmão na casa ali ao lado, cerca das 05:30 – este pessoal não brinca. Estou a ficar fã do banho de tigela, se bem que acho que se gasta mais água, mas sabe mesmo bem.
Acho que ainda aqui não disse, mas aqui a rede Optimus não tem roaming e por isso não tenho ligado o respectivo cartão, comprei um cartão dos daqui (00670 7617856), podem mandar mensagens ou perder a cabeça e trocar umas palavras comigo, eu estou longe e prometo que não conto a ninguém algum ou outro segredo:)! Na montanha a rede vai estar mais circunscrita a uma pequena zona que, ao que parece fica a 30’ de caminho a pé; embora haja rumores de que muito em breve toda a ilha vai estar abrangida por rede de telemóvel.
Hoje parece que há por aqui a inauguração de uma catedral; não sei se é por isso que se ouvem uns voos de helicóptero mais rasos á terra. Vou pensar que sim, ou que se trata de mais um exercício de treino com efeito e justificação duvidoso.
Entretanto recebo de longe uma noticia que transporta para bem perto. Vou ser obrigado a actualizar o meu currículo e acrescentar o título de Tio! Entretanto, daqui ate ao momento certo, espero estar á altura do ‘cargo’ e não perder muito dos primeiros momentos de vida. Apesar de muito longe geograficamente, fico a torcer para que até esse dia, tudo corra muito bem que se vivam bons momentos de gravidez e tudo o que isso envolve.
domingo, 6 de dezembro de 2009
Por fim chego a Díli. Até agora tudo eram projecções, tudo eram rumores (que eu evitava). Tudo que eu disser é baseado numa ideia muito superficial com base no pouco tempo que aqui estou, por isso vou evitar fazer qualquer juízo.
O que se vê é uma cidade gasta, com aglomerados de populações e comercio muito pobres, muitas das pessoas dormem no mesmo sitio onde durante o dia vendem qualquer coisa (garrafas de gasolina, amendoim, manga, maracujá, etc.). Esgotos a céu aberto, rios secos pelo calor e pela falta de chuva que esta atrasada. Claro que há jeep’s, muitos da UN, e meia dúzia de edifícios que assim se podem realmente chamar, embaixadas, um ou dois hotéis, etc., mas esses estão quase sempre nas mãos dos ‘Malais’ australianos, portugueses ou outros.
Entretanto está já em construção o futuro ‘Shoping Timor Plaza’, que deve estar pronto antes do primeiro sistema de esgotos ou da Primeira estação de tratamento de água residuais, ou do que muitas outras coisas. E pergunto-me quem poderá lá entrar, os pés descalços que preenchem estas ruas? Os poucos ‘Malai’s’ que passeiam de jeep? … Talvez também isso faça parte da reconstrução.
Mas a verdade é que se sente uma calma meio frágil, volátil. Deu para reparar nestas 24h um crescente de policias nas ruas que culminou hoje com uma (grande manifestação de apoiantes da Fretilin – principal partido da oposição (acho eu). Á frente da manifestação desfilava um grande contingente policial, não sei se para amedrontar a população que se acumulava na berma da estrada, se para rapidamente tomar conta de alguma situação/manifestação menos permitida. Fico sem saber o porque desta manifestação: será pelo descontentamento do povo que vê o poder nas mãos de extrangeiros e desespera por melhores condições?; ou será pela presença de alguma alta patente ou da eminência da tomada de uma importante decisão para eles?
...depois de Singapura
Mas não ia ficar bem se não me fosse misturar um bocado, já me chegou ir ao Vaticano e não ter entrado na Capela Sistina – já estava fechada, e acho que aproveitei bem. Claro que a noite custou muito mais a passar do lado de fora mas, depois de muito passear as malas e de conhecer os quatro cantos do terminal, de dormitar nesta e naquela cadeira (á espera que se tornassem mais moles com o sono…), lá chegou o meu tempo.
Bem, eu tinha saído meio rápido do aeroporto, nem reparei muito bem; ou depois daquela espera do lado de fora, ao voltar a lá entrar… tudo alcatifado, tudo limpinho! Durante a noite tinha comprado um adaptador para as fichas de electricidade que não cheguei a usar (as únicas 3 fichas que havia no terminal tinham sido conquistadas por outros grupos de nómadas que acamparam por ali), mal entrei liguei o portátil, e toca de por em pratica o esquema de acesso grátis á Net que tinha andado a estudar durante a noite e a actualizar o blog já que a minha grande expectativa (o sistema de Tag pela Net) tinha saído furada – não funcionou. E se lá não funcionou, onde a ligação á Net parecia boa, aqui em Timor é que não deve dar mesmo; ainda assim um dia destes experimento para ver se tento tirar o sono a algum(a) tuga.
Entretanto depois daquelas horas de privação e sabendo que para onde ia não esperava ¼ daquelas condições, entusiasmo-me na net, no blog, no gmail, de tal forma que se não desligo aquilo naquele exacto minuto acho que tinha deitado por terra toda aquela espera do lado de fora e tinha perdido o avião!...quando chego apressado ao gate 3 de embarque já todos os funcionários sabiam o meu nome: ‘ Mr Pedro Barros?!!’ x4.