O dia tinha girado em torno do almoço de despedida por culpa do fim da temporada de trabalhos realizados por um grupo de 5 brasileiros na construção do Centro de Crise. Ao que parece, os homenzinhos chegaram e em cerca de 6 meses puseram aquilo em pé – dizem que aquilo vinha em peças do Brasil e era só montar, mas … em 6 meses… fizeram muito boa figura. Depois do almoço ainda deu tempo para juntar uns aprendizes de frades para um jogo de basquete… era cada um pior que o outro…( eu inclusive)!!!
Acontece que antes de jantar sou avisado pelo Vitor para não esperar por ele para jantar; tinha que ir levar a parteira a um parto mal parado numa aldeia (Funar). A ambulância que deveria fazer esse serviço estava avariada e estava a ser solicitado o jeep dos Irmãos para essa urgência. Claro que fiz para ir com ele, meti duas bolachas na boca e …
Dois familiares da senhora tinham feito o caminho, por atalhos mas com igual desgaste, para fazer o que noutro contexto representaria uma chamada para solicitar ajuda…!! Ao que parece o bebe tinha nascido mas a placenta continuava a fazer sangrar a mãe.
Desta feita a situação do tronco foi prevista, munimo-nos de homens e utensílios (…), e com a ajuda do guincho do jeep... escrito assim ate parece que foi rápido e fácil… mas o tempo que se perdeu… depois do tronco houve mais paragens para tirar grandes pedras do caminho que, á quantidade delas, só não atingem ninguém porque é (quase) ninguém que por ali passa. Mais á frente a agua tornou o caminho numa ribeira…mais uma paragem para tentar refazer o caminho possível á passagem do veiculo…!
A casa era, como quase todas, do mais tradicional, ‘suspensa’, um só telhado, com materiais tradicionais (bambu nas paredes e colmo no telhado). Inicialmente fiquei fora da casa com vizinhos etc. a ouvir, entre outras coisas, os gemidos da senhora. Depois a parteira perguntou por mim e incentivou-me a entrar. Depois de hesitar descalcei e subi.
Escusado será dizer que aquela cena toda foi…único. Assim que entrei senti varias presenças naquele tecto encobertas pela penumbra de uma lareira meio apagada, mas Dirigi-me para onde havia luz. Num canto, a senhora estava deitada, pálida, devidamente resguardada e com as pernas a apontar para as parteiras (sim, uma parteira já lá estava, mas como a coisa não correu como o previsto…). De lanterna na mão e sem saber muito bem o que fazer nem o que dizer (…), reparei que o soro estava a correr para a esteira, tinha saído o cateter, e com a minha linguagem Pictionary (meio português, meio Tetun, meio expressão corporal) perguntei se era legitimo picar a senhora. Repuncionei a senhora e no fim disse baixinho a minha celebre frase: ‘Somos uma equipa!!!!:)!
Bem...um acontecimento emocionante, sem dúvida, até para quem não esteve presente mas leu a tua descrição.O nascimento de um novo ser é fascinante!
ResponderEliminarAproveito para te desejar muita sorte e coragem e continuação de um bom trabalho, sempre aliado de alguma diversão e novas descobertas!
Parabéns pelo fantástico blog do qual me tornei fã!
Mónica Teixeira
ao ler-te revejo o que se vai passando em toda a ilha... os incidentes que nos impedem de salvar mais um... até breve Clarisse
ResponderEliminar